Oi.
Essa aqui é minha newsletter de recomendações. Toda semana, indico um filme e um disco que eu amo, entre hits e títulos menos conhecidos, para você de repente dar uma chance.
Embora eu dê uma pesquisada nas obras aqui recomendadas, a chance de eu passar alguma informação errada ou escrever alguma bobagem é sempre grande. Eu me conheço. Então, sinta-se à vontade para me corrigir se eu falar merda, agradeço inclusive!
Enfim, aí vão as dicas de hoje!
Música
EPO - JOEPO 1981Khz (1981)
Como o nerd cronicamente online que sou, não é de surpreender o fato de que eu amo City Pop, gênero japonês dos anos 1970 e 1980, celebrado por suas produções impecáveis e arranjos transantes, que voltou a ganhar bastante popularidade na última década, especialmente em comunidades musicais pela internet. Eu mesmo me aprofundei no gênero quando fiquei isolado em casa na época do COVID, ouvindo recomendações que o pessoal postava em fóruns e me surpreendendo diariamente com novas descobertas, com discos realmente fodas como Sunshower, da Taeko Onuki, ou midnight cruisin’, do Kingo Hamada. Sinto que tinha muita gente fazendo a mesma coisa nessa época - ouvir City Pop na pandemia foi toda uma vibe, meio como aprender a fazer pão, ou ficar deitado na cama tendo pensamentos mórbidos até hiperventilar.
Um dos meus álbum favoritos do gênero se chama JOEPO 1981Khz, da cantora EPO, que foi lançado, como vocês podem imaginar, em 1981. Ele se destaca por sua estrutura um tanto conceitual: a ideia do EP é simular uma transmissão de rádio, com canções entremeadas por jingles e vinhetas sonoras, dando a impressão de que você não está ouvindo um disco, mas alguma estação AM qualquer. É uma experiência sonora muito envolvente, com um saborzinho nostálgico e agridoce - você se sente nos anos 1980, dirigindo um Mazda com o rádio ligado, enquanto dirige pelas ruas de Osaka, e termina o disco com saudades de uma vida que você nunca viveu.
A cantora EPO é uma figura interessante na história do City Pop. Apesar da carreira musical de sucesso, com discos consagrados como Down Town, ela resolveu, em um dado momento da sua vida, estudar piscologia e trabalhar como terapeuta. Conhecida por hits solares e intepretações alegres, EPO passou por maus bocados na sua vida pessoal, vítima de uma mãe abusiva e violenta, com quem ela teve que conviver por toda sua infância e ao longo de sua vida como cantora. Após uma sessão de hipnose, EPO resolveu cortar laços com a mãe e, além disso, decidiu que ela ia estudar saúde mental, para ajudar pessoas que passaram por traumas parecidos com os seus. De acordo com o que eu li na internet, ela trabalha nas duas áreas hoje em dia, dividindo o tempo entre a psicologia e a música. Da hora, mas imagina que estranho ser atendido por uma cantora famosa dos anos 1980? Você vai fazer sua primeira sessão de terapia, chega lá e a analista é, sei la, a Paula Toller?
Filme
Lady Terminator - Tjut Djalil (1988)
Lady Terminator, terror indonésio de 1988, é um daqueles filmes que as pessoas dizem que “é bom, de tão ruim”. Eu concordo. Embora, pensando aqui no assunto, eu ache esse categoria “bom, de tão ruim" meio esquisita.
Primeiro, como algo pode ser bom, de tão ruim? Se você gostou, não é bom? Por que falar que o negócio é ruim, se você achou bom? Eu entendo o que o termo quer dizer, mas acho que ele trabalha um pouco com a nossa vaidade e culpa também, sabe? Tipo, eu fico com vergonha de gostar de um filme que estaria, a princípio, “abaixo de mim” e daí falo que o filme é bom, mas com o adendo de que ele também é ruim, que é pra ninguém ficar com a impressão de que é desse tipo de coisa que eu gosto - embora eu de fato goste desse tipo de coisa.
Além do que, acho que a categoria “bom, de tão ruim" coloca no mesmo balaio obras muito diferentes no que diz respeito à suas supostas ruindades. Tem filmes, por exemplo, que, de tão “ruins”, acabam sendo involuntariamente engraçados, como em The Room. Mas tem obras que, de tão “ruins", acabam revelando sentimentos genuínos que o autor talvez nem quisesse expressar e, por isso, emocionam de verdade, como nos discos do Daniel Johnston ou, de certa forma, como no filme The Room também. Tem ainda aqueles títulos que são, ao mesmo tempo, ruins e bons, tipo, a estética é “ruim", ou seja, em desacordo com os padrões vigentes de bom gosto ou sei lá eu, mas com ideias incríveis e bem articuladas, como, por exemplo, nos filmes do Zé do Caixão. Essas, no fundo, não são boas de tão ruins, acho que seria mais correto dizer que elas são boas apesar de ruins ou, melhor dizendo, só boas.
Lady Terminator conta a história de Tania, uma antropóloga americana que vai à Indonésia estudar mitologia javanesa, mas acaba sendo possuída por uma entidade demoníaca. A antropóloga sai então pelas ruas de Jacarta massacrando civis, enquanto é perseguida pelo detetive nova iorquino Max McNeil. O filme é certamente “ruim" e, por conta disso, divertido, no que diz respeito ao seu baixo orçamento, ao roteiro ralo e sem nexo, aos diálogos on the nose, atuações esquisitas e à total falta de coerência estética, misturando lendas do sudeste asiático com uma roupagem de Exterminador do Futuro, de um jeito que não faz o menor sentido. Mas o filme também não é o pior do mundo, tipo, algumas cenas são memoráveis, o flow não é horrível, algumas sequências de ação são até que bem decupadas e tem umas escolhas de maquiagem e efeitos especiais que são realmente tétricas e um tanto aterrorizantes. Não tivesse o filme suas qualidades, acho que seria difícil de apreciar seus inúmeros defeitos. Seria ruim, de tão ruim.
Enfim, é isso! Até a próxima!
Demais!
Amo o filme ruim Super Mario Bros de 1993. Acho que isso diz mais de mim do que do filme.