Oi.
Essa aqui é minha newsletter de recomendações. Toda semana, indico um filme e um disco que eu amo, entre hits e títulos menos conhecidos, para você de repente dar uma chance.
Fico curioso em saber se alguém aí chegou a ver um dos filmes ou ouvir um dos discos que eu indiquei. Vocês curtiram? Odiaram? Se você estiver lendo esse post no próprio Substack e não no seu e-mail, sinta-se a vontade para deixar seu comentário. Ou então me segue lá no instagram, que é a única rede que eu uso. Pode mandar recomendações também, se tiver!
Enfim, aí vão as dicas de hoje!
Música
R.P.W - Pule ou Empurre (1994)
Esses dias, enquanto googlava por “discos clássicos do rap brasileiro", acabei trombando com esse EP irado e divertidíssimo de 1994 chamado Pule ou Empurre, do conjunto R.P.W.. Esse nome, R.P.W., é uma sigla que une seus três integrantes, com o R de Rubia Fraga, o P de DJ Paul e o W de W-Yo. Quer dizer, nem nisso o KLB foi original.
De acordo com o que eu li sobre eles, R.P.W. é um trio bem importante, pioneiro do chamado rap bate-cabeça, tradição longeva do hip-hop com influência do punk. O EP tem, de fato, um certo ethos de punk rock, ainda que o som seja 100% rap, com ótimas batidas e hooks saborosos, como o refrão autorreferente da canção O Nome ou a grito de ordem “Pule ou Empurre então!” da música-título. Além delas, há também as faixas Sobrevivência e Discriminados, mais puxadas prum concious hip-hop, que tratam de temas como racismo, machismo e injustiça social. É um disco com uma aura bem anos 1990 - dá vontade de ouvir ele enquanto jogo Donkey Kong Country em uma televisão de tubo.
Como o W-Yo conta em uma entrevista, a carreira musical da banda começou no rock n’ roll. Acostumado com uma plateia mais caótica e tresloucada, W-Yo sempre estranhou o fato do público não se mexer muito durante os shows de rap. Pensando nisso, ele escreveu os versos de Pule ou Empurre, com o intuito de trazer a tradição do mosh e do stage diving para a cultura do hip-hop. A letra, como sugere o título, ordenava a plateia a pular e se empurrar, e a moda pegou. Daí nasceu o bate-cabeça, uma espécie menos bélica de ciranda punk ("empurrar, mas sem treta", como diz a música). Passados 30 anos, o pessoal ainda bate-cabeça por shows de todo o Brasil. Massa.
Eu amo canções como Pule ou Empurre, dessas que ficam mandando na gente. Pule! Empurre! Embora essa música seja um rap com influência do punk rock, sua letra me lembra também um axé, com seu caráter impositivo e aeróbico - essa coisa meio agacha, sobe, tira o pé do chão, sabe? Eu costumo ficar eletrizado com esse tipo de canção, embora quase nunca obedeça a elas. Como uma pessoa bastante introvertida e preguiçosa, gosto de acatar a essas ordens ordens mais internamente. Digamos que eu coloco a mão no joelho e balanço a bundinha, só que na minha mente.
Dito isso, confesso que até eu fico com vontade de empurrar alguém quando ouço Pule ou Empurre. Na verdade, eu tenho vontade de empurrar gente mesmo quando não estou ouvindo essa música. Esse é um dos pensamentos intrusivos mais recorrentes que eu tenho. Tipo, no metrô, eu olho a pessoa perto do vão e penso: “imagina se eu empurrasse ela agora?". Vocês também tem isso? Ou eu estou me abrindo demais aqui?
Filme
Os Eternos Desconhecidos - Mario Monicelli (1958)
Comédia é um gênero que envelhece mal. E nem digo isso pensando nas piadas de antigamente que seriam canceladas hoje em dia, porque tem esse fator também. Outro dia mesmo eu fui rever um episódio de Casseta & Planeta e fiquei chocado com a experiência. Foi como se eu tivesse cometido um crime contra a humanidade, só por ter dado play no video. Tinha tanta piada misógina e homofóbica naquele negócio que a Judith Butler apareceu na minha casa e deu uma palestra de três horas sobre teoria queer.
Para além disso, quando eu digo que comédia envelhece mal, eu estou pensando principalmente numa questão de estilo. Na minha opinião, comédia é um gênero que depende muito de uma certa noção de tom e ritmo, algo que é subjetivo e varia bastante de geração para geração. Por isso, é muito comum ver um filme de comédia antigo e achar tudo meio descompassado e esquisito. Vocês já sentiram isso? Como se as piadas nunca entrassem no timing correto? Fica pairando no ar a ameaça de uma risada que nunca chega ás vias de fato, com punchlines que descem ralas, deixando uma sensação frustrante na garganta? É uma experiência desagradável, mais ou menos como tomar uma coca-cola velha e sem gás.
Existem certas comédias, porém, que, de tão charmosas e estapafúrdias, parecem transcender esse problema, mantendo um flow gostoso mesmo depois de décadas. Os Eternos Desconhecidos, de Mario Monicelli, é um desses filmes. Aliás, qualquer filme do Mario Monicelli é assim. Ele é, creio eu, um dos maiores cineastas de comédia em toda a história do cinema, com clássicos como O Incrível Exército de Brancaleone e Parente é Serpente. Não bastasse seu senso de humor aguçado, tem também o fato de que seus filmes são falados em italiano, que é uma das línguas mais engraçadas que existem. Acho que é por isso que eu nunca curti muito Terra Nostra. Eu via o Tiago Lacerda gritando “Ma che, Giuliana!” e não sabia se era pra chorar ou pra rir.
Os Eternos Desconhecidos conta a história de um grupo de desajustados que planejam roubar uma joalheria. O filme é protagonizado por Vittorio Gasman e Marcello Mastroianni, os dois maiores galãs do cinema italiano na época. Não bastassem serem bonitos, carismáticos e bons atores, eles eram também bem engraçados. Chega a dar um pouco de raiva.
Além deles, Os Eternos Desconhecidos conta com a curta participação de uma jovem Claudia Cardinale, além do lendário comediante Totó, que interpreta um expert em cofres. Esse cara tem um jeitão de personagem da escolinha do Professor Raimundo que eu não consigo muito bem descrever, mas que é simplesmente hilário demais. Totó é foda.
Enfim, aí vai uma versão do filme completo, legendado em espanhol.
Bom, é isso! Até a próxima!