Oi.
Essa aqui é a minha newsletter de recomendações. Na edição passada, falei que ia indicar um filme e um disco por semana, mas esses dias fiquei pensando que isso não vai satisfazer a minha vontade de tagarelar sobre coisas que eu gosto. Então ficamos assim: toda semana recomendarei uns discos e uns filmes, sendo no mínimo um disco e um filme, mas podendo ser também dois filmes e um disco, um disco e dois filmes ou, no máximo, dois discos e dois filmes, mas não mais do que isso. Até porque ninguém merece passar mais que quinze minutos lendo um post do Substack. Tá doido.
Enfim, aí vão as dicas de hoje:
Música
Anamaria e Maurício - Vol. 2 (1972)
A internet é um negócio realmente irado. Ás vezes eu até me julgo por passar tempo demais online, me perguntando se eu deveria dar uma volta na rua, tomar um sol na cara, mas daí o YouTube me recomenda uma compilação de quatro horas daqueles vídeos de prensa hidráulica e o que você quer que eu faça, não veja???
Sem a internet, eu jamais teria ouvido um disco tão fascinante e misterioso como Anamaria e Mauricio vol. 2, produção brasileira obscura dos anos 1970. São doze faixas feríssimas, interpretadas pela dupla de cantores que dão nome ao disco, com composições de autores como Marcos Valle e arranjos de Hermeto Pascoal, Arthur Verocai e outros, incluindo clássicos como Trem Azul, de Lô Borges. Não tem uma faixa que dá vontade de pular. Interpretação charmosa, vibe perfeita.
O disco passou batido na época em que foi lançado e tem poucos ouvintes no Spotify, mas é muito celebrado entre colecionadores de LP. Pelo que eu entendi, quase nada se sabe sobre a dupla de cantores.
O máximo que eu consegui encontrar foram informações aqui e ali em sites de música ou comentários do YouTube, de pessoas que alegam ter conhecido e/ou trabalhado com eles. Não sei se essas informações estão corretas mas, de acordo com a minha pesquisa mequetrefe, Anamaria e Mauricio eram casados, faziam gigs em São Paulo no final dos anos 1960 e chegaram a ser backing vocal em shows do Hermeto Pascoal. Foram descobertos por Antônio Adolfo e gravaram dois discos pelo selo Chantecler: No No No… Estamos na Nossa e Anamaria e Maurício vol. 2. Aparentemente, um deles morreu num acidente de carro, mas não se sabe qual (segundo um comentário do YouTube, foi o Maurício). Mas pode ser que nada disso seja verdade também. Vai ver eles eram irmãos. Ou amigos. Talvez eles estejam vivos. Ou vai ver um deles realmente morreu em um acidente de carro, mas não em uma colisão, tipo, pode ser que o Mauricio estava caminhando perto de uma concessionária quando um Lada caiu em cima da cabeça dele, ou algo do tipo. Vai ver também eu tô pronunciando o nome da Anamaria errado, e vai ver a Anamaria era meio chata com isso e ficava toda hora falando “não é Anamaría, é Anamária”. Vai saber!
A falta de informação acerca da dupla dá uma aura assombrada pro disco que me fascina mas que também me deixa um tanto agoniado. A capa não ajuda, com essa foto estilizada e preto-e-branco, em que não dá pra ver muito bem a cara deles. O nome “vol. 2” também tem um efeito em mim; dá um pouco a impressão que eles planejavam fazer um vol. 3, mas no final não rolou (talvez porque um deles morreu no tal acidente de carro?). Enfim, ainda que a obscuridade do álbum seja um tanto envolvente, eu gostaria que Anamaria e Maurício tivessem ao menos uma páginazinha no Wikipedia, sabe? Eles merecem!
Newjeans - Get Up (2023)
Como um homem de quase quarenta anos que é fã de K-pop, eu entendo totalmente a dificuldade que a galera tem pra entrar no gênero, especialmente o pessoal da minha idade. K-Pop, para a sensibilidade de um boomer ou um millenial como eu, é um troço meio cringe.
Dito isso, me pergunto: crinjar é necessariamente ruim? Eu diria que não. Ocasionalmente, eu até acho desagradável quando o cringe bate, especialmente se é por algo que eu mesmo fiz. Ás vezes, na calada da noite, eu lembro de uma piada merda que falei em alguma mesa de bar no ano de 2012 e fico lá sofrendo que nem um idiota. Por outro lado, crinjar de leve é até gostoso e desejável, especialmente se é por algo inofensivo ou que não te atinja pessoalmente, como naquele vídeo da Vanusa cantando o Hino Nacional. É tudo uma questão de dosagem - na quantidade e no contexto certo, o cringe pode dar a apimentada que faltava no seu dia.
E tem também outra coisa: crinjar é uma parada subjetiva e um tanto arbitrária, né? A crinjada está nos olhos de quem vê. Ou seja, no final, foda-se. Um jovem que não crinja com K-Pop pode muito bem crinjar com coisas que eu acho de boa, e vice-versa. Já vi gente na internet falando, por exemplo, que os Beatles são cringe.
Para mim, não é que K-pop é legal apesar de ser cringe. Ele é legal justamente por isso. E não falo de um jeito hipster, cínico ou irônico. É que é essa a reação que eu tenho com certas coisas que são novas e diferentes: crinjo e, ao mesmo tempo, me encanto, em um agradável mix de emoções. E o K-Pop contemporâneo, goste ou não, tem algo de novo e diferente, com seu inglês macarrônico, seus refrãos que não querem dizer absolutamente nada mas nunca mais saem da sua cabeça, suas misturas desconcertantes de estilos e referências, ou seus videoclipes coloridos e estapafúrdios mas que também são super bem humorados e deleitosos. No final, atravessando a maré de cringe, você percebe que está apenas ouvindo músicas interessantes, bem produzidas, intepretadas e coreografadas por artistas talentosos, como quaisquer outras. O que me faz pensar se eu deveria estar crinjando tanto com as coisas, ou se eu deveria parar de ser besta e só curtir as paradas. Sabe?
Para quem nunca ouviu K-pop e gostaria de começar, eu sugiro como porta de entrada a girl group NewJeans, justamente porque elas tem um estilo que, embora quintessencialmente K-Pop, é menos cringe aos ouvidos não habituados. Você já deve ter visto as cantoras em algum lugar, dada a presença ubíqua que elas tem na internet, seja no Instagram, TikTok ou YouTube. O EP Get Up é o segundo que elas lançaram, em 2023, e foi um grande sucesso de público e crítica. Ele tem menos de quinze minutos e é, na minha opinião, impecável. O som é influenciado por estilos que vão do R&B ao Garage Britânico, em uma série de hits como a música Super Shy que, com seu arranjo fleumático porém incessante, traduz de maneira divertida a experiência de ficar tímido diante de um crush. Apesar de coreano, o disco tem produtores e compositores do mundo todo, como a luso-dinamarquesa Erika de Casier, que escreveu quatro das faixas. Depois de ouvir um NewJeans e se acostumar com as convenções do K-Pop, acho que fica muito mais fácil partir para outros grupos, como BTS, Twice ou Seventeen. Mas sei lá também, quando o assunto é curtir e crinjar, cada um é cada um.
Já que estamos nesse tema, outra coisa que eu amo no K-pop são as danças. Nesse quesito, ele é um gênero muito especial. Não que não existam outros estilos centrados em dançar, obviamente. Mas quando você pensa numa música tipo um funk ou um baião, elas foram feitas pra você mesmo dançar. Já o K-pop foi feito pra você ver alguém dançando - no caso, os idols. E eu adoro ver gente dançar, bem ou mal. As coreografias de K-Pop costumam ser divertidas, expressivas, meio difíceis de executar, muitas vezes com uma coisa até mesmo virtuosa e impressionante. Veja por exemplo essa aqui, que mistura estilos de dança como o vogue e o finger-tutting. Fera demais.
Filmes
O Leão no Inverno - Anthony Harvey (1968)
The Lion in Winter é um filme inglês pra quem gosta de ver bons atores botando para foder. Estrelado por Peter O’Toole e Katherine Hepburn, ele conta a história de um rei e uma rainha do século XII tendo altas DRs enquanto decidem qual dos filhos vai herdar o trono. Os filhos, por sua vez, acabam se juntando ao barraco, culminando em tretas homéricas e eletrizantes.
Se tem uma coisa que eu gosto de ver na tela é gente batendo boca, tipo naquele filme lá que o Adam Driver fica socando a parede. Eu mesmo odeio discutir, mas quando o assunto é ver tretas alheias, daí a coisa é bem diferente. Inclusive, esse é um dos motivos que me faz assistir ao BBB. Curto os embates entre Davi e Yasmin, Fernanda e Alane, e a aquele sincerão das cartinhas foi bem massa também. Muito melhor isso do que ficar vendo aqueles jogos idiotas patrocinados pela Pantene ou sei lá que caralho, com umas regras convolutas e chatas de acompanhar. Eu lá quero ver o Rodriguinho gritando que só a LATAM oferece quilômetros de vantagem enquanto ele tenta sair de um labirinto de tapumes? Tenho mais o que fazer.
Ao contrário do BBB, The Lion in Winter não tem prova de resistências nem festa do líder, se concentrando mais nos embates verbais, com diálogos irados. O filme é baseado em uma peça homônima da Broadway que fez muito sucesso, mas que não tinha esse elenco estrelar. Além da Katherine Hepburn e do Peter O’Toole, ele também conta com a participação do Timothy Dalton (que depois virou um dos James Bonds) e do Anthony Hopkins, em seu primeiro papel no cinema. A Katherine Hepburn, inclusive, acabou levando o Oscar por esse filme (merecido).
Eu, enquanto roteirista, sempre aprendi por aí a máxima do “show, don't tell", isto é, a ideia de que, em cinema, é muito mais elegante mostrar algo (show) do que verbalizar (tell). Por exemplo, muito mais impactante do que ouvir o Rodriguinho explicando que o novo fogão do Electrolux tem duplo forno, é ver alguém terminando de assar um bolo em um compartimento, enquanto faz batatas rústicas no outro.
No entanto, filmes como The Lion in Winter mostram que, ás vezes, o certo é “tell, don't show", ou seja, é muito mais legal ver os personagens falando do que fazendo qualquer outra coisa. Até porque “tell” sempre tem também um pouco de “show", né, tipo, falar mexe com suas expressões faciais, sua postura corporal, é uma coisa super visual. Um bom ator hablando é puro cinema.
Enfim, por hoje é só! Até semana que vem!
Lembro que comecei a ouvir k-pop lá por 2017, 2018 com Twice e Red Velvet. Esse último, inclusive, foi o responsável por eu me jogar nas músicas porque a estética dos vídeos era perfeita (aquela coisa bonitinha, mas macabra). E realmente, mesmo aquelas músicas que estranham no começo você acaba curtindo depois. Agora sobre crinjar, eu tinha esse sentimento com as boy bands (severas críticas aos cabelos dos idols), mas de uns tempos pra cá ando ouvindo mais BTS e tô curtindo de um jeito… COMO É BOM!!!!
E plmdds, Naughty foi a coisa mais perfeita já feita no k-pop. Essa dança pqp 🥰🥰🥰 Arrasaste obrigada por representar os kpopero millennials